domingo, 18 de maio de 2014

De tempos que deixam saudade


Entre fotos na parede e uma caixa de bilhetinhos e cartas antigas, ficaram lembranças, de amigos que um dia foram do peito e hoje já são distantes, e de pessoas que há tempos não sei falar “nós” sem certo receio de invadir uma individualidade a qual não pertenço.
O tempo passou desde os cadernos da sexta série cheio de corações e nomes de meninos semi-especiais que a gente achava ser nosso mundo, passou desde um ensino médio coberto de falsos sorrisos e convites vazios e rasos. O tempo passou para eles, o tempo passou para mim e no decorrer de tantos anos, meses, semanas e dois dias atrás, ficaram memórias ocupadas de momentos bons e de histórias repletas para contar um dia.
O fato é que eu, não sei mais ser pela metade, aprendi a ser oito ou oitenta, mesmo que isso magoe, machuque ou que simplesmente não seja o melhor jeito de ser sociável. A vida ensina que “tratar bem” e “ser boazinha, educada, bonitinha, boamiguinha” é coisa que a gente só faz pra ser superficial e não pra ser a gente, afinal, quem melhor do que os bons e verdadeiros para conhecer nossos espelhos sem que termos que contar ou entregar instruções?
Cansei de barulhinhos de pássaros que convidam a conversas nas quais você não se sente a vontade para falar e desse falso interesse que fingem ter pra ganhar um amigo pra contar no dedo a mais. Fechei o círculo. Aos poucos foram ficando os que se importavam e para trás ficaram conhecidos de quando eu achava que aos dezoito eu moraria sozinha, amigos que apoiaram na saúde e na doença, na alegria e na tristeza e rostos que vi pela faculdade e um dia sentei junto.
Amadurecer é quebrar a cara, pôr a mão no fogo por você mesma e se queimar, ver gente fazendo escolhas erradas e pagar  língua por querer falar, é dizer “adeus” e só querer do seu lado quem te faz sorrir, te põem pra cima e depois de alguns dias você consegue falar “Deu saudade”, afinal, a ausência sentida é a certeza de que a presença valeu a pena.

- Marcella Leal

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