quarta-feira, 30 de julho de 2014

Eu não sei do que eu tô falando

            Eu nunca vou ser a gostosa da academia, que desfila a bunda espremida na calça de ginástica mega estampada e não se digna a pôr blusa por cima do top vulgar. Eu nunca vou ser a amiga descolada que fala sobre sua intimidade aberta e clara com os amigos pra ficar sabendo da vida sexual deles. Já parei há muitos anos de tentar fingir ser algo que não sei ser, esssa boazinhas com cara de santa, descoladinha e amiguinha, simplesmente não sou eu.
                Eu acordo todo dia com uma vontade enorme de mandar metade das pessoas com quem convivo diariamente para um lugar tão feio que mancharia o texto se digitasse, as pessoas são tão blábláblá e faz-de-conta que não cabe na minha paciência.
                Pego quatro ônibus por dia e em todos eles, tem uma gorda escrota que não tem noção de espaço e estaciona na frente da porta do ônibus e tem um idiota que acha que eu sou obrigada a escutar Racionais e alguma senhorinha que, desavisada do meu senso crítico tagarela, vem fazer reflexões sobre a vida, as pessoas, e “essa juventude de hoje em dia”, em que dá licença, eu me enquadro.
                Todo santo dia eu não tenho certeza do que estou fazendo, mas me dedico ao máximo para que fique bem feito, porque eu tenho vergonha na cara e jamais conseguiria olhar pro  meu chefe no final do mês e saber que eu não fiz nem metade do que ele me confiou sem corar as bochechas e sentir vontade de enfiar a cara no buraco mais próximo.
Trabalhar no oitavo andar tem disso, direto você olha pela janela e imagina como seria o mundo sem você e me dói o estômago pensar que para muita gente, seria até melhor. Não, não é drama e nem tendência suicida, é só um desabafo de coisas soltas que me passaram pela cabeça nas últimas vinte e quatro horas e para encarar esse dia e o resto dessa semana, eu simplesmente tinha que desabafar.
O que conforta é saber que eu volto todo dia pra uma bela de uma casa, com comida quente no fogão e mensalidade da faculdade em dia e       que algum dia, se tudo nessa vida der certo, vou rir desse texto enquanto leio ele na minha varanda em frente pra praia. Mas vai demorar a chegar essa maré, vão passar ônibus lotados, greves do transporte público, wifi ruim, professores pé no saco, gente que não sabe dizer “obrigado” e muita pessoinha falsa e arrogante, que de tão rasas, nunca vão conseguir mergulhar profundamente em nada e vão ficar estáticas no mesmo lugar – ou consigam.
Toda história bonita tem por trás uma passagem de luta, conquista e superação, é o velho clichezão de que as maçãs boas não ficam na base da árvore e na verdade, não tem nada que conforte mais do que isso.

            
       -Marcella Leal