Eu nunca vou ser a gostosa da academia, que desfila a bunda espremida
na calça de ginástica mega estampada e não se digna a pôr blusa por cima do top
vulgar. Eu nunca vou ser a amiga descolada que fala sobre sua intimidade aberta
e clara com os amigos pra ficar sabendo da vida sexual deles. Já parei há
muitos anos de tentar fingir ser algo que não sei ser, esssa boazinhas com cara
de santa, descoladinha e amiguinha, simplesmente não sou eu.
Eu acordo todo
dia com uma vontade enorme de mandar metade das pessoas com quem convivo
diariamente para um lugar tão feio que mancharia o texto se digitasse, as pessoas
são tão blábláblá e faz-de-conta que não cabe na minha paciência.
Pego quatro
ônibus por dia e em todos eles, tem uma gorda escrota que não tem noção de
espaço e estaciona na frente da porta do ônibus e tem um idiota que acha que eu
sou obrigada a escutar Racionais e alguma senhorinha que, desavisada do meu
senso crítico tagarela, vem fazer reflexões sobre a vida, as pessoas, e “essa
juventude de hoje em dia”, em que dá licença, eu me enquadro.
Todo santo dia eu
não tenho certeza do que estou fazendo, mas me dedico ao máximo para que fique
bem feito, porque eu tenho vergonha na cara e jamais conseguiria olhar pro meu chefe no final do mês e saber que eu não
fiz nem metade do que ele me confiou sem corar as bochechas e sentir vontade de
enfiar a cara no buraco mais próximo.
Trabalhar no oitavo andar tem disso, direto você
olha pela janela e imagina como seria o mundo sem você e me dói o estômago
pensar que para muita gente, seria até melhor. Não, não é drama e nem tendência
suicida, é só um desabafo de coisas soltas que me passaram pela cabeça nas
últimas vinte e quatro horas e para encarar esse dia e o resto dessa semana, eu
simplesmente tinha que desabafar.
O que conforta é saber que eu volto todo dia pra
uma bela de uma casa, com comida quente no fogão e mensalidade da faculdade em
dia e que algum dia, se tudo nessa
vida der certo, vou rir desse texto enquanto leio ele na minha varanda em
frente pra praia. Mas vai demorar a chegar essa maré, vão passar ônibus
lotados, greves do transporte público, wifi ruim, professores pé no saco, gente
que não sabe dizer “obrigado” e muita pessoinha falsa e arrogante, que de tão
rasas, nunca vão conseguir mergulhar profundamente em nada e vão ficar
estáticas no mesmo lugar – ou consigam.
Toda história bonita tem por trás uma passagem de
luta, conquista e superação, é o velho clichezão de que as maçãs boas não ficam
na base da árvore e na verdade, não tem nada que conforte mais do que isso.