18 horas de uma sexta feira a
enoitecer, a chuva se fortalecia. O sinal fechou no cruzamento da Praça Cívica,
caminha o homem já velho, franzino e com a pele enrugada de ver sol até a faixa
de pedestres, e com a causalidade de quem cantarola uma canção, começou a tocar
Roberto no trompete.
Ao meu lado atravessando a rua, uma
senhora canta junto e em certo ponto junta as mãos em curta prece e manda um
beijo ao céu como se agradecesse por Deus ter feito a vida dela, certo dia,
cruzar com outra, como se tudo o que quisesse dizer fosse que “Nem mesmo o céu nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito;
Nada é maior que o meu amor.” Abaixou os olhos e deixou cair a lágrima,
em seguida seus olhos encontraram os meus e em cumplicidade nos despedimos sem
nada falar.
Em sessenta segundos - uma música que eu nem escuto e duas pessoas que eu nunca vi na vida - esqueci
dos meus problemas e quis agradecer também, não pelas coisas boas que tenho,
mas pela maturidade de aprender com as ruins.
- Marcella Leal