sexta-feira, 27 de março de 2015

Sobre poetizar o que não rima

            18 horas de uma sexta feira a enoitecer, a chuva se fortalecia. O sinal fechou no cruzamento da Praça Cívica, caminha o homem já velho, franzino e com a pele enrugada de ver sol até a faixa de pedestres, e com a causalidade de quem cantarola uma canção, começou a tocar Roberto no trompete.
            Ao meu lado atravessando a rua, uma senhora canta junto e em certo ponto junta as mãos em curta prece e manda um beijo ao céu como se agradecesse por Deus ter feito a vida dela, certo dia, cruzar com outra, como se tudo o que quisesse dizer fosse que “Nem mesmo o céu nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito; Nada é maior que o meu amor.” Abaixou os olhos e deixou cair a lágrima, em seguida seus olhos encontraram os meus e em cumplicidade nos despedimos sem nada falar.
           Em sessenta segundos - uma música que eu nem escuto e duas pessoas que eu nunca vi na vida - esqueci dos meus problemas e quis agradecer também, não pelas coisas boas que tenho, mas pela maturidade de aprender com as ruins.

                                                     - Marcella Leal

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